terça-feira, 25 de outubro de 2011


Envolvimento

De repente
Você cruzou o meu caminho,
Deu-me um toque
Com seu jeito de me olhar...
Enchendo-me de ternura,
De uma paixão incontida
Que não consigo ocultar...

Às vezes me desconheço...
Quando penso em você
Me viro pelo avesso...
Me desfaço e refaço, aconteço...
Você só me fez bem desde o começo,
Satifez minhas carências, o meu ego,
Isto eu reconheço e não nego...

Acyle Couto

domingo, 23 de outubro de 2011




Performance


Eu nessa manhã
Tão amena...
Pensava escrever um
Poema que enchesse
A atmosfera com o frescor
Da primavera...


Em minha performance captei
todas as nuances e brilho
Impregnando-a com os odores
Que ousada roubei das flores...


Ensimesmada, meio dormindo
Meio acordada,
Divago e me enquadro
Nesse capricho de quadro...


Embalada pela brisa,
Cheia de encantamentos...
Tocada pelo sopro dos ventos
Que varre meu sofrimento,
Soprando com brandura 
toda minha amargura...


Acyle Couto
Embalo


Cabelos soltos
Flutuam na minha 
Espádua nua...
Em brancas espumas
Infiltram os raios da Lua...


No silêncio da noite
Sinto as carícias do vento...
Fito o horizonte
Encaro o estrelado firmamento,
Quedo-me envolvida
Pelo mistério de tão doce momento.


Como por encanto
O cicio da brisa
Desperta a natureza...
Que se agita...despreguiça
Encrespa as ondas do mar...
Levando meus pensamentos
Pra outras bandas acolá...


Acyle Couto

Divergências


Meu caminhar ausente
Diverge da minha vontade...
Estacionário não me leva
Onde eu quero...
Forma lacunas onde resiste a 
Insatisfação, crio artifícios
Que dissipam a solidão...


Meus monólogos
Sempre os mesmos:
- Será possível transpor
Minhas muralhas...
Ocupar novos espaços?!...


Cheguei ao fundo do poço:
Emergir é preciso
- Sem covardia, sem medos -
Livrar-me da monotonia
Sair ilesa desse inferno
Mudar o enredo...
Investir na alegria com muito riso
Criar em alegoria
Minha versão de paraíso...


Acyle Couto
Acalanto


E a menina se fez mulher...
Receptáculo de vida
Acolheu as sementes
Imbuídas de amor tão fecundo
Que a flor desabrochou e frutificou...


Louvada seja a metamorfose
Menina-mulher, geratriz
De tão sublime amor...


E a menina que se fez mulher
Cheia de cuidados e zelos
Deixa de lado  seus folguedos
E brinquedos...


Agora, em meio às cantigas de roda,
Orquestrada pelo encanto do momento,
Capta-se no ar,
Uma suave canção de ninar...


Acyle Couto




Adversa


Se me queres calada
Eu falo...
Se me queres inerte
Eu reajo...
Se me queres anjo
Eu sou demônio...
Se me queres doce
Eu sou amarga...
Se me queres nas nuvens
Te desafio
Piso no chão...


Acyle Couto
Quebradas


Em minhas linhas quebradas
Delineio meu jardim suspenso...
Lá vicejam lilases,
Saudades mordazes,
Beijos e suspiros dobrados...
Dos meus amores imperfeitos
Reflorescem amores perfeitos...
É lá que eu amo na relva
Me banho de selva
Me visto de encantos e 
Me dispo para o meu rei...


Acyle Couto



Enigma de Mulher


Eu quero
Mostrar-me
Em transparências...
Corporificar minhas 
Essências...
Extravasar minhas
Carências...
Nutrir meu ego em suas
Exigências...
Expor-me inteira sem disfarce
Ser vista e revista como ser
E decifrada em meu
Enigma de mulher...


Acyle Couto




Gata


Tu és a chama viva
Que me incendeia,
Que me queima, aviva
Que me desnorteia...
Finjo que nada sinto cheia de receios,
Mas tuas carícias me intumescem os seios...


Teus olhos me desnudam
Antes de desvendar-me os véus...
Teu corpo me procura
E o meu reclama o teu...
Em meio a tantas loucuras
Procuro alcançar os céus...


Nua em pelo,
Satisfeita nos desejos meus,
Esta gata, já mansa,
Aninha nos braços teus....




Acyle Couto







Labirinto


Pelos lugares onde piso
Rompendo meus labirintos
De recantos escondidos
De ruas estreitas, baldias
-Vazias de sentimentos-
Encaro mil desafios e
Saio ilesa dessas trincheiras...
Não sei o que se deu comigo
Só sei que não sou mais a mesma...
É que nas minhas trilhas povoadas
De muitas esquinas,
Surgiu uma ali ao lado,
Onde eu encontro o pecado...




Acyle Couto

sábado, 22 de outubro de 2011



Duo


Eu poeto,
Tu arquitetas,
Em nossas formas
Geométricas...
E eu assimétrica,
Desfaço-te em 
Métricas....
Mas, na cama,
Tu és o poeta!...






Acyle Couto

sexta-feira, 21 de outubro de 2011





Amor de Verão


Vou curtir o verão
Com amor em profusão!...
Há energia no ar
Quero me recarregar,
De quebra, consultar os orixás,
Fazer um pedido, um descarrego
Pra livrar de seu feitiço...
Juro que depois disso
Vou fazer um reboliço,
Amar só sem compromisso...
Ai então, vou curtir de montão
Toda paixão de verão que cair
Na minha rede...
Afinal o mar está pra peixes,
Eu vou no encrespar das ondas
No embalo dos ventos...
Mergulhar fundo nesse mar de
Sentimentos... dourar-me ao
Sabor do sol e do vento com
Aquele tom caliente de sedução
Envolvente que tanto desperta
A gente para os prazeres da
Tentação de amar até ao raio
Do luar e à beira-mar
Esperar o verão passar...


Acyle Couto




Incoerência


Na imagem refletida,
Você tão irrefletida...
Num reflexo do seu ego,
Você tão inibida...
No universo do seu sexo,
Vejo-a tão permissiva...
Nos seus nexos desconexos,
Você tão arremetida:
Nas transparências: _inocência_
Nas incoerências: _ indecência _
No acalanto dos seus prantos
Afetos e desafetos...
Num amplexo ao descomplexo um desabafo...
Nos compassos e descompassos
Amores e desamores,
Alguns desfeitos e refeitos
Entre tantos dissabores,
Ardentes enganos e desenganos
Ledos encantos e desencantos...
Incoerentes desencontros...
Profusão de sentimentos
Na alquimia do seu sexo...


Acyle Couto
Simbolismo


Sou matéria
E etérea,
Símbolo dos elementos
Que represento
Com arte...


Sou terra chão,
Água  meu elemento,
Fogo de paixão...
Ar... voos inimagináveis
Incursos na amplidão...


Filosófica e cósmica
Sou mandala,
Versão simbólica
Do éter no Oriente...
Que divaga em busca do nirvana...


Alimentando meu ego,
Evidencio com arte,
As forças dos elementos
No dia-a-dia de outrora
E nos momentos de agora...


Acyle Couto




Astral


Olhando para o nascente
Vejo o Sol resplandecente
Irradiando muito magnetismo
Muita disposição, que absorvo
Cheia de vitalidade e fantasia
Já que os astros pressagiam
Períodos de sombras e nostalgia
Intercalados de luz e alegria...
Afinal, é tempo de carnaval,
Agora olhando para o poente
Vejo a Lua fina e crescente
Mandando que eu vá em frente
Espargir muita energia,
Ganhar um impulso cósmico-espiritual...
Enfim, elevar o meu astral.
Netuno que me segure...
Já que os astros estão em Peixes
Assim como eu estava na tua...
Agora eu só quero estar na rua
Olhando a Lua que flutua nua
Clareando a amplidão
Apontando-me outra direção.


Acyle Couto




Sufoco


Chega de sombra
De repressão...
Isto me exorta, me sufoca
Abre esta porta...
A asfixia me tira de órbita,
Quero viver a vida lá fora...
Sem demora sair dessa redoma,
Por quem me tomas?!
Uma demente incoerente, inconsequente,
Inerte, irreverente, sem sangue quente?!
Eu não estou morta...
Qual o conceito que fazes de mim?...
Eu tenho gana sim...
Muito amor próprio,
Cheia de vontades, tenho garra
Para varrer os preconceitos,
Fazendo valer os meus direitos
Encontrar alguém que me trate
Com muito mais respeito e que
Não me subestime desse jeito.
Quero entre outras tantas 
Em vez de preterida ser a 
Preferida, sendo a mais querida...
Deixar de ser apenas um fantoche
Manipulado por baixo dos panos
Com escárnio...
Num obscuro quarto
Como cenário...


Acyle Couto




Foco de Luz


Eu girassol,
Você doce mel...
Meu lado bom
Lado mau...
Lado de luz
Que reluz e me seduz...
A sombra me apavora,
Cuidado com suas demoras,
Não se ausente no tempo
Antes que outros ventos
Soprem para o meu firmamento
Outro foco de luz!...


Acyle Couto

























Prece ao Amanhecer

Rósea manhã,
Banhada de sol...
Ceda-me sua luz!...
Brisa matutina, dissipe
As brumas de mágoa
Para que eu reflita
Como gota d'água, todo esplendor
Furtacor do alvorecer...
Vestígio de madrugada orvalhada,
Lava-me com suas gotas serenas
Carregando minhas penas...
Reflexos da noite nada amena 
Que passei...




Acyle Couto




Vida


Caminhos
Terra
Procela...
Ventos vadios
Trilhas batidas
Bafejos de vida
Ressentida
Ou bem vivida...
Momentos de bonança,
Cromoterapia no dia-a-dia,
Mundo vagabundo,
Onde se vive para a vida
Ou se morre para o mundo...
Consorte, sem sorte,
Sobrevivência
É uma questão 
De vida ou de morte...


Acyle Couto




Caboclo do Mato


Caboclo arredio
De olhar enviesado
Que busca os costados
Adentra os matos no alvor
Das manhas... fugaz diligente
Corta as correntes
Liberto e contente
Encontra os prazeres
Em campestres afazeres...
Feliz e desperto
Recolhe o gado,
Fustiga o cavalo,
Corta a lenha, se embrenha
No banhado...
Seu jeito matreiro
De menino do mato
Com um "quê" de assustado
Espanta no ato o pudor e o
Recato... levando ao rubor
As camponesas em flor...
Tornando-as cativas, elas o tomam
Como o sol, e buscam em sua luz o arrebol...
Deitadas em idílicas alcatifas
Entre relvas de clorofila
Essas faceiras donzelas
Cheias de fitas
Sugam seu néctar e
Embriagadas de amor
Se rendem à natureza 
Erguendo com sua seiva
Um brinde em louvor a esse
Pagão deus do amor!...


Acyle Couto





Ilusões


Lá fora a chuva cai,
Tamborila na janela,
Esvai o meu cansaço
Cai-me o sono
Povoado de lindos sonhos...


Neles eu me encontro
Me realizo, me recomponho...
Projetando-me num palco
Com minhas ilusões
Que amenizam o meu viver...


Através da vidraça, eu suponho,
A luz difusa invade a sala
Decomposta em gotas d'água
Encobrindo-me com o seu brilho
Para apagar minhas mágoas...


Acyle Couto










Velhas Cantigas


Cala a lira do poeta,
Emudece o trovador,
Silencia a viola
Do violeiro cantador...
Que já não canta suas rimas
E nem nos fala de amor...


Vão-se as noites enluaradas
Das serestas nas calçadas
Que endeusavam a sua amada
Embevecida na sacada...
Ela, emudecida, escutava,
Ele, o poeta, cantava...


Cantava... cantava...
A viola vibrava, vibrava...
Velhas cantigas de amor
Tocada pelo ardor
Desse poeta cantador
Que já não nos fala de amor...


Foram-se as noites de estrelas
De musa na sacada...
A rua perdeu seu encanto
Sem o canto e o acalanto
Do poeta violeiro e cantador...


Acyle Couto




Clarear


Amante da natureza,
À luz da razão,
Emerge do mundo
Pedindo passagem
À tradição,à opressão,
Dando asas à liberdade,
Clareia os refugos do porão...


Deísta, regido pela natureza,
Clama pela igualdade
Dos que vivem em iniquidade
Reprimidos, omissos nas sombras,
Emudecidos nos recantos
Da transitividade ingênua
Engolidos pelos magnatas do sistema...


Acesa a chama da consciência
Um confronto de contrários
Transforma  o esquema: muda-se
Ingenuidade em criticidade,
Passividade em Ingerência,
Mutismo em dialogação que ilumina
A retidão...inserção de equidade...




Acyle Couto


Senhora das Águas


Sou filha de Iemanjá,
Mulher bonita e vaidosa
Princesa das águas
Rainha do mar...
Dócil e cheia de beleza,
Meu orixá...


Em sua realeza
Desperta pelo mar
Acorda e se enfeita
Para saudar o ano
Que se finda e o outro
Que vai chegar...


Recolhe as oferendas,
Suas prendas,
E cheia de encantamento e magia
Escuta a agonia do ano morto
E o regozijo do ano novo,
Mescla de estrondo de fogos e champanhe...


Atenciosa, atende solícita e serena
A um alarido de pedidos
Segredado com sigilo
A caminho do mar...
Pelos fiéis e amantes 
Que lhe vão homenagear...




Acyle Couto



quinta-feira, 20 de outubro de 2011





Poema do Olhar


Teus olhos
São como os oceanos
Profundos...um mar de mistérios
Que tento em vão decifrar...


Ofuscado pelo brilho
Do farol do teu olhar,
Náufrago perdido,
Querendo te encontrar...


Sinto-me lesado, 
Sem ter onde apegar,
Sigo a luz do teu olhar...


Mergulho nessas águas profundas
Envolto em brumas soturnas
Na esperança de te tocar...




Acyle Couto
















FELICIDADE


Onde andará a felicidade
Que não responde ?!...
No sibilar dos ventos que
Dispersa os pensamentos
Ou nos murmúrios das fontes
Que rumorejam lá longe?...


Estará  caindo em cascatas
Ou no luar cor de prata ?
Nas águas cantantes dos rios
Ou nas águas revoltas  dos oceanos?
No reflorir da primavera
Ou no outono da folha que cai ?...


Quem sabe se esconde 
Na trova do poeta
No cântico do cantor
No prenúncio do profeta
que cheio de cantilena
Nos fala de paz e amor...




Acyle Couto





quarta-feira, 19 de outubro de 2011




Rotatividade


É bem verdade que
O Sol nasce e morre a cada dia...
Que a noite sucederá o dia
Que as tristezas são a agonia da alegria...


Que uma paixão ardente se torna fria
Que todo amor é belo enquanto dura
Extinta a sua chama transfigura
Na eterna inconstância da procura...


Assim gira o mundo de contrastes,
Onde tudo se reveza com arte...
O dia, a noite, a vida, a morte, os amores...


Enquanto um vem o outro vai
Só fica na alma dos amantes
A esperança equilibrista que não cai...



Acyle Couto